Morreu hoje, em Buenos Aires, o filósofo e semiólogo Eliseo Verón, 78, em decorrência de um câncer. Esta triste notícia me fez lembrar não apenas dos muitos papers com sua assinatura que compõem minha biblioteca acadêmica, mas principalmente do contato que tive com este ícone intelectual latino-americano durante o Celacom 2007.
Na época eu era graduanda do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da UCPel. Como avaliação à disciplina de jornalismo digital (acho eu), a professora Raquel Recuero propôs à minha turma de 7o semestre que nos dividíssemos em grupos e realizássemos a cobertura on-line do Celacom. Essa tarefa foi, certamente, a experiência mais enriquecedora que tive durante os quatro anos do curso de jornalismo.
Em função do trabalho proposto, produzi algumas matérias, charges e crônicas, entre elas uma que tratava, especificamente, do maior homenageado daquela edição do Celacom, Eliseo Verón. Lembro que na época fiquei nervosa por não conhecer em profundidade o trabalho do autor, mas me propus a observa-lo durante os três dia de colóquio para compor uma crônica que, ao contrário das muitas matérias já publicadas pelos alunos, não tratava do trabalho intelectual do professor argentino, mas sim de sua surpreendente figura.
Hoje, presto minha pequena homenagem àquele que veio a se tornar um de meus ícones no universo acadêmico, (re)publicando a crônica escrita em 2007:
Teoria x Práxis
(crônica publicada no dia 10/05/2007 durante cobertura do Celacom)

Rumores de um mau humor congênito surgiram da platéia, a seriedade do pesquisador se tornou um signo que indicava a manutenção de uma distância segura. Mais que isso, a fama de intelectual dos intelectuais tornou o perímetro de sua figura radioativo para aqueles que desconheciam o tal argentino.
Sentado sempre na quinta fileira do auditório central, o homem tão esperado parecia esquecido entre os ouvintes e, assim como eles, escutou atenciosamente sobre Internet, Freire, América Latina, Antônios e formatos.
Mesmo quando o barulho de marteladas e serras invadiu uma das exposições, o olhar de Verón se manteve fixo ao palestrante. Uma concentração quase inabalável, uma expressão quase congelada.
Com sobrancelhas arqueadas e cabelo branco algodão, o renomado homem da comunicação latina causou tremor e algumas horas de nervosismo naqueles que o entrevistaram, mas também garantiu cadeiras lotadas e transmissão ao vivo quando subiu ao palco.
No último dia, na última hora do congresso, ele, o grande homenageado, sentou sozinho frente ao público para falar por si. Depois de uma mesa de Doutores discutindo sua obra, Verón se dirigiu vagarosamente à mesa de explanação.
Sem qualquer falsa modéstia agradeceu aos responsáveis pelo CELACOM e prometeu não se alongar. “Há o jogo de futebol às dez”. Naquele momento, o homem distante e calado que cruzava pela UCPel estava, despretensiosamente, arrancando risos da platéia.
E assim foi. Durante os poucos minutos que ficou sob os holofotes, o grande homenageado se comunicou de forma simples, objetiva e descontraída. Provando que, além de inovador, Verón também é surpreendente.
Ao contrário de alguns Doutores, o argentino falou aos acadêmicos, reduziu seu próprio tempo de verbalização e cativou os expectadores com um discurso horizontal e agradável.
Mais uma vez Eliseo rompeu paradigmas e desconstruiu, através da simplicidade, uma idéia já formada. A imagem dura de Verón mudou no imaginário dos ouvintes após poucos minutos de palestra.
A estrela do CELACOM se manteve apagada até o momento exato de brilhar e, quando o fez, foi aplaudido de pé pelos olhos curiosos que o seguiram durante os três dias de congresso.
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QUEM FOI? Verón formou-se em Filosofia na Universidade de Buenos Aires em 1961, após o que foi aluno de Claude Lévi-Strauss na França, quando estudou no Laboratório de Antropologia Social do College. O argentino se tornou referência da semiótica com sua teoria da "semiose social", que desenvolveu após afastar-se da semiologia saussuriana, a mais aceita até esse momento nos estudos de comunicação social. Após duas décadas de carreira no exterior, retornou ao país em 1995, onde foi catedrático em várias universidades. Além disso, foi docente na Universidade de Buenos Aires, onde sua obra é parte fundamental na disciplina de Ciências da Comunicação, e na Universidade de San Andrés, na qual dirigiu o mestrado em Jornalismo até 2006 (FONTE: site R7).
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